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Autoria

Atualizado: 20 de jul. de 2021



Certa vez ouvi uma pessoa dizer que o crochê e provavelmente o tricô, são técnicas que não se sabe ao certo quando surgiram, e tudo feito a partir dos pontos dessas técnicas, não podem ser atribuidas a autoria pois os pontos já existem portanto, desenvolver uma sequência com tais pontos seria a repetição de algo que não foi criado. Confuso.


Também ouvi, que não são obras de arte e que essas sim, quando estão em um museu, serão obras de arte.



Aí me deparo com a exposição acima feita em feltragem pela artista Masako Mikie e me pergunto, a feltragem também é uma técnica que deve ter iniciado por alquém, (estudarei mais a respeito) e portanto, qualquer peça feita nessa técnica também não são autorais e podem ser reproduzidas livremente.


Me explica, o que faz a diferença entre obra e um trabalho artesanal? O uso? Onde está ou foi exposto?


Visitei certa vez a exposição de Christian Lacroix em um museu e eram peças de vestuário. Se estivessem no corpo de alguém andando pelas ruas ou em um evento, poderiam ser copiadas livremente, por serem apenas tecidos e materiais para sua confecção, certo? Quando vai para um museu vira obra de arte.


Acredito que é falta de conhecimento entre meio e criação e é só pensar, se tenho instrumentos cirurgicos em minhas mãos e sei costurar, concluo que posso fazer cirurgias? O que está faltando? Afinal, é só abrir um ser vivo com tais instrumentos e depois costurar, não é mesmo?


O desprezo pelo conhecimento, talento e genialidade é o que permeia esses pensamentos que ao meu ver, são dedicados à destruição do indivíduo.

Concordo totalmente que o conhecimento deve ser disseminado mas também, o estudo e dedicação do ser humano pela busca desse conhecimento e desejo de inovação, deve ser valorizado.


Me conta, você estudou uma boa parte da sua vida, seus pais ou você comprou o material, ou ainda, ganhou de alguém que também teve que comprar. Se fez faculdade, teve que gastar ainda mais, além das horas e mais horas de estudo para se formar.

Ao concluir seus estudos, uma pessoa te fala que qualquer coisa que faça com o que aprendeu, deve ser compartilhado porque o conhecimento deve ser assim e de forma gratuita.



Isso é matemática, saber fazer contas? Se o que aprendeu não for vendido, seus filhos não terão pais para pagar pelos seus estudos e por isso, deixarão de ter conhecimento para ser compartilhado. Estou tentando entender esse raciocínio.



Quando fiz mestrado, meu pai que pagou pelo meu estudo, já não estava mais para me ajudar. Foi uma época em que eu não estava ganhando muito bem na faculdade que lecionava até porque, precisava de mais tempo livre para estudar.

Cheguei a ficar das 8 da manhã até às 10 da noite, apenas com um lanche que levei de casa e na época, não tinha como comprar os livros que precisava.


Foi difícil mas não me arrependo, apesar de ter tido professores completamente sem noção, tive outros que me fizeram ver diferente.

Estudo todos os dias, muitos me consideram nerd e adoro! Leio bastante, me dedico a estudar cada pontinho de crochê ou nova técnica que vejo e aí, uma pessoa diz que devo compartilhar gratuitamente tudo que aprendi.


Como me mantenho? Como alguém pode manter sua família? Eu encontrei um caminho atendendo clientes que me pagam muito bem, pelo meu conhecimento e assim, posso colaborar com projetos gratuitos, mas e quem não tem essa opção?


Estou quase decifrando a dificuldade de compreensão sobre pessoas que ainda não entenderam o que é criação. Falta pensamento abstrato e ainda não sabem que existem coisas que não sabemos da sua existência por isso, essa dificuldade de entendimento sobre o autoral.


Caçar projetos e expor só mostra ainda mais essa dificuldade, mostram que precisam denunciar qualquer coisa para se sentirem bem com elas mesmas afinal, o que essa pessoa não está vendo? Acredito que existe um vazio e não sabem como preenchê-lo.


(Ps.: estava pensando sobre a incasável busca de projetos para comparar com os meus. Deve ser mesmo muita admiração para passar tanto tempo fazendo algo para mim afinal, nosso tempo é muito precioso e ter alguém que usa pensando em mim é muita dedicação).


Outro aspecto é acreditar que um trabalho profissional não deve partir de um briefing sugerido pelo cliente. Não é a técnica que define isso e sim, o profissionalismo e pode acontecer do briefing (que no meu caso jamais será olhar outra peça na mesma técnica) esbarrar em outros projetos já existentes e isso se chama inconsciente coletivo ou, um simples pedido do cliente, só isso.


Vamos lá, meio é a técnica e os materiais que já existem há muito tempo na maioria das vezes e criação, o talento do individuo em unir técnica e materiais de forma criativa e claro que autoral, se tiver desenvolvido a partir da sua observação, genialidade e muito, mas muito estudo.


Por isso ter apenas os instrumentos e conhecimento de costura não te fará um cirugião assim como, conhecer todos os pontos de crochê, tricô, bordado te fará um criador se não souber construir algo com isso de acordo com seu repertório e história. Simples.


Uma reflexão pela manhã com meu marido...



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